Fim da guerra está próximo? Saiba o que deve constar em um acordo de paz

As decisões perante os temas discutidos entre as nações gerariam impactos significativos para outros países, não só para Rússia e Ucrânia, como é o caso de uma possível integração do território ucraniano à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — um dos pontos que levou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a autorizar o que chamou de “operação militar especial” na Ucrânia.
De acordo com Tito, esse movimento criaria um “clima de insegurança” para os russos, um dos motivos pelos quais Putin, insiste que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, exclua a ideia da carta constitucional do país. “Existe uma política dentro da Otan chamada NATO Sharing [ou compartilhamento nuclear], que permite que parte do arsenal nuclear dos Estados Unidos possa ficar abrigado em bases da Otan e ser utilizado em caso de guerra”, afirma. “Agora, imagine bases americanas, francesas, britânicas e mísseis sendo baseados em território ucraniano, a menos de 800 km de Moscou, a capital da Rússia. É um desequilíbrio estratégico muito grande.”
O presidente russo, segundo o especialista, quer desenhar uma espécie de “linha vermelha” no continente europeu, traçando o que para ele seria a área de influência geopolítica da Rússia da região euro americana. “Colocar a Ucrânia na Otan, ou qualquer país da ex-União Soviética na Aliança, seria visto como uma humilhação para a Rússia, porque colocaria os territórios da parte europeia — que seria a fração russa mais populosa, urbanizada e industrializada — exposta a um rival geopolítico, uma potência que pode assumir atitudes hostis”, acrescenta.
“É preciso condenar a guerra, mas existe coerência nas demandas do Putin”, diz o geógrafo.
Desde o início do ataque russo, os países da Otan têm se limitado a enviar meios militares para ajudar a Ucrânia, não enviando tropas ou fechando o espaço aéreo, como foi pedido diversas vezes por Zelensky . De acordo com a Aliança, uma maior interferência levaria a uma guerra europeia mais ampla e brutal.
“Acredito que, agora, haja uma abertura do Zelensky em negociar essa questão, já que ele vê que a Otan não está disposta a aceitá-los tão cedo”, explica. “O principal problema é a Ucrânia reconhecer que a Crimeia agora faz parte da Rússia, além de reconhecer as duas repúblicas autoproclamadas [Donetsk e Luhansk] como estados independentes. Dessa forma, o país estaria perdendo três províncias de uma só vez”, avalia.
Antes da invasão russa à Ucrânia, Putin declarou o reconhecimento dos territórios de Donetsk e Luhansk, na região de Donbass , onde separatistas pró-Moscou controlam boa parte do território desde 2014. A decisão fez com que a então crise atingisse outro patamar e a tensão de uma possível guerra se agravasse.
Além dos fatores já mencionados, a neutralidade e a desmilitarização da Ucrânia também são discutidas e devem constar em um acordo de paz. Após as últimas reuniões, a Rússia se mostrou disposta a aceitar que o país de Zelensky adote um modelo comparável ao da Áustria e da Suécia . A Ucrânia manteria as Forças Armadas, mas apenas para se defender de possíveis agressões, já que se declararia neutra em conflitos futuros e se comprometeria a não se unir a nenhuma aliança militar ou sediar bases militares estrangeiras.
Ainda não se sabe se as sanções aplicadas contra a Rússia também fazem parte das discussões e entrariam em um acordo para cessar a guerra.
“O ponto sensível é, por exemplo, a União Europeia embargar a compra de petróleo, gás natural e outros insumos minerais que eles importam da Rússia. Caso isso aconteça, é claro que a economia russa seria afetada, já que ela depende da exportação desses insumos, o problema é que isso influenciaria muito nos preços de produção, transporte e dos próprios alimentos. O impacto seria muito grande”, ressalta.
Esses motivos fazem com que os países da União Europeia fiquem com um ‘pé atrás’ em impôr sanções mais duras contra a Rússia. “Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, por exemplo, podem se dar ao luxo de sancionar a energia russa, porque eles consomem muito pouco. No caso dos japoneses e sul-coreanos, que não produzem petróleo, não há como embargar a Rússia, o custo de vida aumentaria demais.”
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De acordo com Tito, o desafio do presidente ucraniano para cessar o conflito está justamente em convencer não só os países ocidentais como também o mundo inteiro a isolar a Rússia, uma vez que ambos os mandatários não se mostram dispostos a abrir mão das demandas exigidas.
Conflito no território ucraniano, iniciada em 24 de fevereiro , já entra no segundo mês e acumula grande número de mortos e feridos