Em Malta, Papa Francisco pede resposta à ’emergência migratória’ agravada pela guerra na Ucrânia

“Algum poderoso, tristemente preso às pretensões anacrônicas de interesses nacionalistas, provoca e fomenta conflitos”, disse o líder da Igreja Católica, em uma alusão inequívoca ao presidente russo Vladimir Putin, embora sem citar qualquer nome.
Francisco denunciou ainda as “seduções da autocracia e os novos imperialismos”, que provocam o risco de “Guerra Fria ampliada, o que pode sufocar a vida de povos e gerações inteiras”.
Ao falar sobre o conflito na Ucrânia, que provocou a fuga de 4,1 milhões de habitantes do país, o papa solicitou “respostas amplas e compartilhadas”.
“Não podem deixar que apenas alguns países suportem todo o problema, enquanto outros permanecem indiferentes”, declarou ao lado do presidente de Malta, George Vella, e do corpo diplomático.
Além da referência à Ucrânia, esta foi uma crítica à política migratória de Malta, acusada com frequência de fechar os portos às ONGs que socorrem migrantes que tentam chegar ao continente europeu em uma perigosa viagem pelo Mediterrâneo.
Ele é o terceiro papa a viajar ao país, depois de Bento XVI em 2010 e João Paulo II em 1990 e 2001. A história do país está impregnada de catolicismo desde a época de São Paulo, que se acredita que sofreu um acidente natal em Malta a caminho de Roma.
Quase 85% dos 516 mil habitantes de Malta se declaram católicos e esta religião é parte da Constituição. Malta é o único país da União Europeia (UE) que proíbe totalmente o aborto.
No discurso, o pontífice opôs as virtudes de “honestidade, justiça, senso de dever e transparência” à “desigualdade e corrupção” que afetam a reputação de Malta.
De fato, Malta garante parte de sua prosperidade econômica nos setores de jogos de azar online, empresas offshore e os famosos “passaportes dourados”, que oferecem residência ou nacionalidade a investidores ricos cujas fortunas, às vezes, têm origem duvidosa.
O assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia em 2017, que provocou grande comoção no país e no mundo, provocou novas acusações ao país.
O pontífice presidirá uma missa no domingo em Floriana, perto da capital Valeta, após uma visita à Gruta de São Paulo, onde se acredita que o apóstolo buscou refúgio.
Também no domingo visitará migrantes radicados no laboratório de paz de Hal Far, centro migratório fundado por um frade franciscano em 1971 em homenagem a João XXIII. O centro abriga atualmente 55 jovens migrantes da África e se prepara para receber refugiados da Ucrânia.
ONGs de resgate que patrulham o Mediterrâneo acusam Malta de ignorar os pedidos de ajuda de migrantes em suas águas e que se recusa a recebê-los.
Também apontam que o país alerta as autoridades líbias para interceptá-los e levá-los para campos de detenção superlotados, onde são expostos a tortura e abusos.
Em sua opinião, o conflito é alimentado por ‘algum poderoso’ voltado para ‘seus interesses nacionais’